Ticker

6/recent/ticker-posts

Publicidade

“O Orisa de Antigamente”


Quando ouço essa frase rapidamente minha mente estala “ Ué, a divindade não é mais a mesma?”
Claramente sim, a divindade não muda. Orisa é o mesmo.
Pior ainda é quando o próprio sacerdote/Isa pronuncia a dita frase referindo-se a um filho seu. 
A sociedade evoluiu, o ser humano evoluiu. 
O Orisa de antigamente tinha o que era de melhor dada as condições da época. Se pegarmos as décadas de 70/80 comia carne todos os dias apenas quem tinha muita grana, logo, é difícil imaginar Orisas vestidos de rendas europeias em meia a alta da inflação que o Brasil viveu em tal época. Mesmo assim, antes de falarmos das plumas que usam “hoje em dia”, devemos dar uma olhada nas fotos antigas. Vejo fotos de grandes nomes do Candomblé onde as penas do capacete de Orisa batiam no teto, no teto MESMO. 
“ Se fulano não fosse pro terreiro o santo incorporava em casa e arrastava” 
Difícil em colega, menos demagogia e hipocrisia. Como eu disse, o ser humano evolui, e evolui a tal ponto de desmistificar certas estórias. Jogar a responsabilidade para seu Orisa por sua ausência é infame. 
Devemos fazer um esforço para entender o sentido e o motivo da excorporação de nossa ancestralidade. Por que e para que excorporamos?
Ao assumirmos uma religiosidade, junto com ela vem a abdicação do tempo para participar dos rituais, assim sendo, você se vire e vá para seu TERREIRO, Orisa é muito grande para ficar te obrigando a algo. Agora, o que isso trará de consequências ? Cada Ory uma sentença! 
O que é um fato: A FÉ. A fé mudou! Há 30 / 40 anos atrás a coisa neste País era horrenda. Fome, miséria, violência doméstica, racismo gritante. A única coisa que o povo de Candomblé, que por consequência era o pobre, tinham era a FÉ.  
A fome gritava, corria pro terreiro, lá encontraria um prato de pirão.
Apanhava do esposo, no terreiro Orisa abraçava.
Sofria preconceito, no terreiro todos eram iguais. 
Eram essas situações que faziam o Orisa de “antigamente” diferente dos de hoje. A situação ruim criava a FÉ. 
Hoje tudo é mais fácil. Ninguém precisa ficar anos e anos para conseguir trocar a roupa de run do Orisa, a lista de obrigação rapidamente é adquirida... 
As dificuldades são menores. O dinheiro chegou e junto com ele as facilidades e futilidades. 
Futilidade talvez seja o vocábulo que devêssemos usar para alguns adeptos do Candomblé e não para o Orisa... 
“As pessoas do Candomblé de antigamente não eram tão FÚTEIS como algumas pessoas do Candomblé de hoje” 
E tudo isso, porque a FÉ é pequena mas grande é o vazio que ocupa o Ori daquele ser.

Texto: Danilo Vieira

Postar um comentário

0 Comentários