É preciso frear e inibir a prática de venda de rituais e práticas litúrgicas através de cursos e apostilas. E isso por vários fatores:
1. Faz parte do aprendizado do candomblé, em razão de sua origem cultural africana, o passo a passo, o pouco a pouco. Não se deve apresentar as teorias e práticas rituais aos iniciados de uma vez. A lição do aprendizado do tempo, da humildade depende disso;
2. O aprendizado vendido a estranhos fere a hierarquia da estrutura do candomblé. Qualquer iniciado, mesmo fora do seu tempo, teria acesso a informações teóricas, para as quais ele não está sequer preparado espiritualmente para lidar com as práticas dessas teorias;
3. As práticas litúrgicas estão diretamente ligadas às tradições familiares que remontam, muitas delas, da fundação do candomblé. Portanto, é danoso, incoerente e improdutivo pertencer a uma tradição litúrgica e praticar ritos de onde nem se sabe de onde vem e ainda que soubesse, não é a tradição na qual o indivíduo foi concebido como iniciado;
4. Quem vende práticas rituais de sua família de àṣẹ, da sua tradição, pratica uma prostituição religiosa;
5. Essas vendas indiscriminadas de rituais podem chegar, e chegam, a não iniciados, a usurpadores da fé alheia, a esotéricos que só querem capitalizar sob o sofrimento do outro;
6. Por fim, essas informações muitas vezes são compradas pelo inimigo, pelos evangélicos intolerantes que levam vídeos, fotos e receitas para as igrejas para achincalhar com os cultos afro-brasileiros.
Não comprem, não vendam. Vamos combater veementemente essas práticas comerciais. Já não bastam as iniciações de 20 mil reais, vão vender o que nós é mais íntimo e caro?
Abaixo à mercantilização do àṣẹ!
Obs. Minha crítica se refere única e exclusivamente à tradição do candomblé. O que se faz e como se faz em demais religiões, não me cabe criticar.
Bàbá Gill Sampaio Ominirò
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